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quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

O trenzinho da felicidade

Hoje ele brincou na piscina de lona no quintal e quanta felicidade! A água é a volta ao lar, não é mesmo?
E o que é felicidade?
Nossos ancestrais primatas foram felizes por terem escapado dos ataques de feras maiores que eles. O cidadão da Idade Média foi feliz quando escapou das pestes.
Meu avô paterno ficou feliz quando veio para o Brasil, a terra que não entrava em guerra contra outras nações. Minha avó paterna ficou feliz quando teve Alzheimer e de Campinas se projetou num trem na Alemanha.
O trabalhador da década de 30 ficava feliz quando podia dar um sapato para o filho ir trabalhar como ele. O trabalhador da década de 70 ficava feliz quando podia comprar um Danone para os filhos nos finais de semana. O trabalhador da década de 90 ficava feliz quando podia presentear um vídeo-game para o filho mais velho. O trabalhador do século XXI, como eu, fica feliz ao saber que nenhum de seus filhos está usando substâncias químicas proibidas, pois já enjoaram de tênis de marca famosa, Mac Donalds e  eletroeletrônicos, para acreditarem que são felizes..
Felicidade é abstração e efeito..
Francesco fica feliz com a água...

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Primeiro aniversário

 Meu bebê está andando e mesmo sem firmeza nas pernas quer correr e cai. Talvez seja algo em nosso DNA que chamamos de "ansiedade"..A ânsia de chegar a algum lugar que não se conhece e daí os tombos valem porque a ansiedade, muito embora possa trazer arrependimentos, também é aprendizado...E a ansiedade parece nunca parar, é  tão frenética como o ato de respirar. Quando se chega aonde quer, tudo rapidamente perde o encanto..Uma amiga fez de tudo para conhecer o Coliseu e depois de anos de economia, olhou para o local e perguntou: "- E agora?"
Ansiedade e imaginação são gêmeas fraternas. Nasceram juntas, porém, uma sempre quer ir mais longe que a outra..A imaginação nasceu primeiro e é mais ágil, já  a ansiedade sempre tenta correr atrás de sua irmã acreditando que conseguirá..
É a ansiedade que nos faz tentar correr quando as pernas ainda não sabem andar ..Portanto, ainda somos parecidos com o Francesco..
Sua vela de 1 ano foi assoprada numa torta de Morango no Bar do Boquinha.e que traga toda a sorte possível!


Foto: 1o Aniversário: As irmãs Bruna e Letícia e a tia Carla. Abaixo o pai Artur e o primo Vitor:

domingo, 16 de janeiro de 2011

Logo ele terá 12 meses...

Hoje é dia 16 de janeiro e faltam 3 dias para o primeiro aniversário de Francesco..
Não sei se haverá festa pois ainda estou pensando. Festa nessa idade é apenas representação "de" e "para" adultos. Bebês ainda não comem bolos de chocolate com recheio assim como não tomam refrigerantes. Por coincidência ele começou a bater palmas ontem..
Os primeiros 12 meses são os mais preocupantes para a sobrevivência humana, como minha mãe dizia "- Criança é que nem passarinho".
Doravante, sou levada à uma retrospectiva.
Não foi muito fácil esses últimos meses, começando pela gestação, porém, o que é exatamente fácil na vida? Talvez o complexo se acentue mais nas mulheres, ao menos pela nossa ótica.
Já nascemos com óvulos, imaginou isso? A passagem para a vida nos acompanha desde que, por nossa vez, éramos fetos..Assim, somos sempre fadadas a sermos mais velhas que os homens..
Entramos antes na puberdade, carregamos muito dentro e fora de nós e quem diria até que a menopausa chegue, ainda iremos nos reproduzir...Aliás, é quando encerramos essa missão que a natureza começa a nos matar...
Tudo dentro de nós é uma revolução explosiva, as vezes parece que somos dinamites...
Nem nós mesmas entendemos a TPM e o por que dos filhos, cujo peso nossos braços transportam com dores sem reclamar, olharem para o pai como se fosse ele a última bolacha do pacote..Mas, ficamos felizes que eles estejam felizes atraídos pelo pai, que pela ordem natural, esteve menos presente que a mãe..
Francesco veio de surpresa, já no final, quando o desfecho parecia ser outro..Foi tudo no plano invisível. Células pequenas se encontrando e todo um complexo sistema reprodutor dando apoio..
Foram meses de peso exacerbado devido ao inchaço, meses de desconforto. Depois noites sem dormir como é de práxis e um dia, espero poder olhá-lo nos olhos para dizer "- Trate toda e qualquer mulher como uma dama, pois você tem mãe e irmãs. Se não fosse o sexo feminino nem você nem nenhum homem do mundo existiriam. O pediatra disse que você terá 1.95 m, porém você já coube microscopicamente dentro de mim."  


Foto: Casamento da Prima paterna na cidade de São Paulo, foto com o avô Césare, a irmã Bruna e a prima Lara em 09/01/2010

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Do rio que tudo arrasta dizem que é violento, mas ninguém diz o quão violentas são as margens que o reprimem..

Viajamos para Maresias no Litoral Norte.
Adorou a proximidade com os avós paternos, eternos adoradores de bebês e da perfeccionista e bela, tia Carla.. 
Ele também gostou da piscina, da areia da praia, dos passeios mas, talvez não tenha gostado de alguns  "Não pode!". E quanto mais adultos por perto, mais "Não pode"..
Geralmente é um problema considerável levar bebês e crianças para passeios pois eles ainda não sabem que existe um universo polimorfo.
Agora que ele dá os primeiros passos, experimentando uma parcela de autonomia, quer segurar tudo que lhe é novo. Os brinquedinhos, todos bonitinhos, coloridos e caros, já não interessam. O interessante é pegar um relógio e derruba-lo, ou, colocar o dedinho num interruptor..Quanto mais falamos "Não pode" e balançamos o dedo indicador, mais desejos surgem pelo proibido..
Pior ainda é que temos que inicia-lo na limitação do sono. Mesmo bebês não podem fazer barulho as 2:00 h da manhã, quando outras pessoas, cansadas, precisam dormir..E essa imposição é uma das piores pois sono é como um passarinho que pousa ou não sobre um travesseiro..  
Assim, vamos limitando o caminho, os acessos e aguentamos o choro de repulsa do querer infantil.
Crianças e adolescentes (crianças que não cresceram o suficiente) sofrem no mundo conjugal. No entanto, na idade da razão, descobrirão que se não fossem os limites, 90% da humanidade não chegaria à idade adulta. Obviamente, tem adulto que limita demais e dai caímos no que Freud relacionou com histeria, ou, neuroses provenientes de "desejos reprimidos"..
Nós também fomos seres que alguém limitou e talvez o que nos fizeram foi só um treino para a limitação maior, a  da vida..Nesse corpo tudo será sempre limitado. No entanto, um dia aprenderemos a ser livres psiquicamente. Os monges já conseguem essa proeza.
Só na idade da razão é que descobriremos que toda a autonomia que experimentamos no início da vida adulta, depois dos 18 anos, foi um Oásis. Pouco adiantaram as rebeliões dentro de casa, ou o choro de cólera..
No fim, até agradecemos termos sofridos limites físicos..
Na minha época eu invejava as crianças que podiam ficar na rua o tempo todo, depois os adolescentes que podiam madrugar e sair com quem quisessem...Todavia, muitos não voltaram para a casa ou voltaram mutilados pelo contato com a realidade..Uma premissa é sempre verdadeira: Não há piedade fora de nossa casa..
O filhiarcado foi uma tendência da década de 90 que mostrava que o filho poderia controlar a casa, mas não deu muito certo pois para governar algo é preciso de muito conhecimento e conhecimento exige experiência e experiência precisa de tempo..Em suma, tudo isso precisa de um outro quesito, a aprendizagem.
Brecht dizia "Do rio que tudo arrasta dizem que é violento, mas ninguém diz o quanto são violentas as margens que o reprimem".Nessa frase, o autor fala da política da década de 30, das fortes repressões que culminavam em tortura, exílio e morte..Nesse caso, existe o excesso de margens, mas a inexistência de margens é utópica para nossa espécie. 
Quando eu tinha 16, lia essa frase e pensava que meus pais eram opressores tirânicos pois eram as hediondas margens. Depois vi que haviam margens no trabalho, no coleguismo, na vizinhança e na política. Odiava as margens. Com 4 décadas de existência, agora penso que não haveria rio sem margens pois a água, livre, teria se evaporado..Ter margens foi a condição de sobrevivência do rio..
Chega um ponto na vida em que nós mesmos criamos nossas margens. Iremos nos auto-controlar, nos auto-domar, nos auto-limitar, do contrário, adoeceríamos e por conseguinte, seríamos excluídos..  
Um dia Francesco entenderá porque não pode colocar o dedo no interruptor, colocar qualquer coisa na boca e saberá que é importante para os que estão por perto..Até vamos tentando controlar o estresse dessa situação..  Nunca foi fácil ser um limitador de crianças.


Tela de Lasar Segall